domingo, 27 de novembro de 2011

José de Anchieta





O melhor da produção literária do Quinhentismo, do ponto de vista estético, surge na segunda metade do século XVI, com a chegada dos padres jesuítas. Seus textos, com forte traço da cultura medieval, representam manifestações de uma literatura mais organizada, seja pela cultura dos membros da Companhia de Jesus, seja pelo cultivo de gêneros como a poesia e o teatro. Refletindo o momento religioso da Contra-Reforma, é uma literatura de cunho pedagógico, voltada ao trabalho de catequese.
Tendo o padre Manuel da Nóbrega, Provincial dos Jesuítas no Brasil, solicitado mais braços para a atividade de evangelização do Brasil (mesmo os fracos de engenho e os doentes do corpo), o Provincial da Ordem,Simão Rodrigues, indicou, entre outros, José de Anchieta.
Anchieta, que padecia de "espinhela caída", chegou ao Brasil em 13 de junho de 1553, com menos de 20 anos de idade, com outros padres como o basco João de Azpilcueta Navarro. Noviço, veio na armada de Duarte Góis e só mais tarde conheceria Manuel da Nóbrega, de quem se tornaria particular amigo. Nóbrega lhe deu a incumbência de continuar a construção do Colégio e foi a partir deste que Anchieta abriu os caminhos do sertão, aprendendo a língua tupi e compondo a primeira gramática desta que, na América Portuguesa, seria chamada de "língua geral".
No seguimento da sua ação missionária, participou da fundação, no planalto de Piratininga, do Colégio de São Paulo, do qual foi regente, embrião da cidade de São Paulo, junto com outros padres da Companhia, em 25 de janeiro de 1554. Esta povoação contava, no primeiro ano da sua existência com 130 pessoas, das quais 36 haviam recebido o batismo.
  • Obras:

Segundo a "Brasiliana da Biblioteca Nacional" (2001) "o Apóstolo do Brasil", fundador de cidades e missionário incomparável, foi gramático,poeta, teatrólogo e historiador. O apostolado não impediu Anchieta de cultivar as letras, compondo seus textos em quatro línguas -português, castelhano, latim e tupi, tanto em prosa como em verso.
Duas das suas principais obras foram publicadas ainda durante a sua vida:
  • "De gestis Mendi de Saa" ("Os feitos de Mem de Sá") impressa em Coimbra em 1563, retrata a luta dos portugueses, chefiados pelo governador-geral Mem de Sá, para expulsar os franceses da baía da Guanabara onde Nicolas Durand de Villegagnon fundara a França Antártica. Esta epopeia renascentista, escrita em latim e anterior à edição de "Os Lusíadas", de Luís de Camões, é o primeiro poema épico da América, tornando-se assim o primeiro poema brasileiro impresso e, ao mesmo tempo, a primeira obra de Anchieta publicada.
  • "Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil" impressa em Coimbra em 1595 por Antonio de Mariz. É a primeira gramática contendo os fundamentos da língua tupi. Apresenta folha de rosto com o emblema da Companhia de Jesus. Desta edição conhecem-se apenas sete exemplares, dois dos quais encontram-se na Biblioteca Nacional do Brasil: o primeiro pertenceu ao imperador D. Pedro II(1840-1889) e o outro é oriundo da coleção de José Carlos Rodrigues. Constituindo-se na sua segunda obra publicada, é ainda a segunda obra dedicada a línguas indígenas, uma vez que, em 1571, já surgira, no México, a "Arte de la lengua mexicana y castellana" de frei Alonso de Molina.
O movimento de catequese influenciou seu teatro e sua poesia, resultando na melhor produção literária do Quinhentismo brasileiro.
Entre suas contribuições culturais, podemos citar as poesias em verso medieval (sobretudo o poema De Beata Virgine Dei Matre Maria, mais conhecido como Poema à Virgem, com 4172 versos), os autos que misturavam características religiosas e indígenas, a primeira gramática do tupi-guarani (A Cartilha dos nativos).
Foi o autor de uma espécie de certidão de nascimento do Rio de Janeiro, quando redigiu sua carta de 9 de julho de 1565 ao Padre Diogo Mirão, dando conta dos acontecimentos ocorridos ali "no último dia de fevereiro ou no primeiro dia de março" do ano. Nela se encontram os seguintes trechos: "...logo no dia seguinte, que foi o último de fevereiro ou primeiro de março, começaram a roçar em terra com grande fervor e cortar madeira para cerca, sem querer saber nem dos tamoios nem dos franceses." E: "... de São Sebastião, para ser favorecida do Senhor, e merecimentos do glorioso mártir."
A sua vasta obra só foi totalmente publicada no Brasil na segunda metade do século XX.
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Thayná Rezende

2 comentários:

  1. O maior representante deste tipo de literatura entre os jesuítas foi o padre José de Anchieta,teve grande importância na literatura dos jesuítas e no quinhentismo,também escreveu cartas, sermões, poesias e peças teatrais, utilizou os idiomas: latim, Tupi e português, em suas obras onde teve uma grande influência missionária.

    Ingridy Lima

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